terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mostra de videoperformances - MIP2





Durante a MIP2, participei da mostra de videoperformances. Com curadoria do CEIA, os vídeos PE#001 e Quero que cuspam leite em mim... foram exibidos tanto no Espaço 104 quanto no Museu Inimá de Paula, incluídos na programação oficial do evento. As duas videoperformances podem ser vistas nesse blog.

Sobre PE#001, escrevi:

Se o trabalho é um acontecimento possível somente a partir do uso do vídeo, sua especificidade ultrapassa o mero registro de ações – como ocorre em registros de performances - transformando-o em um trabalho necessariamente acoplado ao dispositivo que o atualiza. Se o corpo está invertido a partir da inversão da imagem captada pelo dispositivo, sua veracidade e estranhamento favorecem uma percepção que diverge da percepção fotográfica, já que aqui o corpo não é estático e a ação se prolonga no espaço/tempo. Assim, não uma suspensão do acontecimento, como é o caso da fotografia, mas uma seqüência continuada do acontecimento é o que prevalece, ampliando, nessa ótica, qualquer sensação de instantaneidade própria do fotográfico.
Se no processo fotográfico meu interesse é o de, exatamente, criar uma pausa na sucessão temporal, permitindo relações entre a ação do corpo e sua fixação, no vídeo essa questão se mantém e, ao mesmo tempo, se altera. Mantém-se porque busco, mesmo na imagem em movimento, uma pausa advinda da repetição. É como um momento de silêncio, uma abstenção do devir, um corte na interminável seqüência temporal. Nessa insistência, que persiste durante um período e prolonga-se quando o trabalho é apresentado em looping, o movimento não se apresenta como ação contrária às pausas, mas vê-se acentuada a pausa através da relação que se estabelece entre instâncias contraditórias. Posso dizer que são pausas e congelamentos, mesmo que manifestas temporalmente. Ao mesmo tempo, o movimento existe e é perceptível. Sua duração temporal estabelece a característica própria do vídeo.
De qualquer forma, entre o movimento e a pausa, entre o tempo e sua desaceleração é que o trabalho realiza o paradoxo vinculado à intemporalidade do tempo, ou sua suspensão. Se a repetição é a força propulsora dessa percepção, a característica de rito imprimida a esta ação corporal é a outra face constitutiva da digressão da imagem, capaz de levar-nos a encarnar o silêncio nessas pausas em movimento.
Assim, o intemporal manifesta-se tempo exatamente durante o acontecimento, que o retira da imaterialidade tornando-o exprimível enquanto manifestação do signo que o atualiza. Ao mesmo tempo, tornado matéria de percepção, o tempo volta a ser percebido como algo imaterial, suspenso em sua ausência de sentido.

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