quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

GESTOS MECÂNICOS - Dezembro de 2007

Quanto mais percebo a facilidade com que imagens em movimento são transmitidas de forma global em questões de minutos, mais consciente fico da incapacidade de uma leitura profunda dos aspectos que constituem essas imagens - desde sua intenção, origem, método, abrangência, até sua recepção e percepção pelo outro.
Não pretendo atestar valores e posições hierárquicas, qualificando em categorias essas formas de percepção. Mesmo os mais imprevisíveis contatos são intensidades, possibilitando apreensões reais.
Na série de vídeos denominados Gestos Mecânicos, realizados entre o período de 01 a 25 de dezembro de 2007, percebo uma amplitude que transborda os limites de um tempo e lugar precisos, abrindo-se, em suas particularidades individuais, ao encontro com o outro.
Nessa obra que se desmenbra e dilui, convergindo para uma existência que não se consegue deter e que se move sozinha, compreendo sua facilidade de ser tanto uma faceta como toda sua extensão. Completamente livre de direções e proposições rígidas, sua imaterialidade compõe nesse espaço virtual um imenso espectro de abertura ao porvir.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mapeamento verbal da série Gestos Mecânicos - acompanhe os vídeos no You Tube.

Gestos Mecânicos I - 01/12/07

uma ação cotidiana em uma série de vídeo registro.

Gestos Mecânicos II - 02/12/07

Série de 25 vídeos como registro de uma mesma ação diária. A data da captação da imagem e do upload é apresentada ao início do filme. As imagens são captadas por uma CAM/ câmera de PC.

Gestos Mecânicos III - 03/12/07

"Os acontecimentos são as únicas idealidades; e reverter o platonismo é, em primeiro lugar, destituir as essências para substituí-las pelos acontecimentos como jatos de singularidades." GILLES DELEUZE

Gestos Mecânicos IV - 04/12/07

"Foi a partir desta descoberta do rosto como lugar do acontecimento que o cinema mudo pôde produzir um mundo de epifanias, de coisas dotadas de olhar. Por meio do close, que dá dimensão monumental ao rosto, suspende toda intriga e duraçao exteriores para concentrar nele os acontecimentos." NELSON BRISSAC PEIXOTO - Paisagens Urbanas

Gestos Mecânicos V - 05/12/07

"É somente através do muro do significante que se fará passar as linhas de a-significância que anulam toda recordação, toda remissão, toda significação possível e toda interpretação que possa ser dada. É somente no buraco negro da consciência e da paixão subjetivas que se descobrirão as partículas capturadas, sufocadas, transformadas, que é preciso relançar para um amor vivo, não subjetivo, no qual cada um se conecte com os espaços desconhecidos do outro sem entrar neles nem conquistá-los, no qual as linhas se compõem como linhas partidas..." GILLES DELEUZE/FÉLIX GUATTARI - Ano Zero/Rostidade.

Gestos Mecânicos VI - 06/12/07

Hoje vai ser o silêncio!

Gestos Mecânicos VII - 07/12/07

Como habitar os espaços? Como construir possibilidades criativas e ativas nessa relação com o interior dos lugares familiares - o quarto, o banheiro, os cantos? Nessas performances, amplio campos de presença, transportando-as para mídias públicas e de livre acesso.

Gestos Mecânicos VIII - 08/12/07

Chamo de "gestos mecânicos" aquelas ações que acontecem cotidianamente, e que incluídas como ações necessárias e insdipensáveis, atualiza em nós uma reflexão sobre os atos modelados e destituídos da presença ativa na ação.

Gestos Mecânicos IX - 09/12/07

quero me ver livre do rosto...desse rosto ultrapassado e que não me atende mais. Trabalhar de forma a desconstruir uma identidade formatada pelo medo e culpa. Meu corpo não é meu rosto, é muito mais que isso.

Gestos Mecânicos X - 10/12/07

Destruir o rosto é trazer dignidade para a cabeça. Uni-la ao corpo, eliminando a experiência de deslocamento corpo-cabeça.

Gestos Mecânicos XI - 11/12/07

Nessa cabeça de palhaço, expondo seu rosto ao ridículo da ação, fica evidente a sutil e invisível passagem entre estados que motivam, no outro, o desrespeito, o olhar crítico, a indiferença, e por outro lado, a inserção em circuitos culturais, a aceitação, a sofisticação intelectual. Transitar entre esses lugares pode ser uma política.

Gestos Mecânicos XII - 12/12/07

Fenômeno ritual intenso que, em sua repetição, devolve ao gesto a possibilidade de ser pura poesia.

Gestos Mecânicos XIII - 13/12/07

"Conquistadores podem ter privado suas vítimas da sua linguagem, arte, religião, reis e arquitetura; mas a dança, sempre fértil, escapou do controle do conquistador." T. Hijikata

Gestos Mecânicos XIV - 14/12/07

"...é preciso constatar que se misturam diariamente nas telas do planeta as imagens da informação, da publicidade e da ficção, cujo trabalho e cuja finalidade não são idênticos, pelo menos em princípio, mas que compõem, debaixo de nossos olhos, um universo relativamente homogêneo em sua diversidade." Marc Augé

Gestos Mecânicos XV - 15/12/07

Total participação - total alienação...não existe espaço para o conforto do equilíbrio.

Gestos Mecânicos XVI - 16/12/07

A pele do rosto....deslizando pela sua superfície, a câmera registra suas descontinuidades, rugosidades...percursos que modificam sua aparente superfície - máscara.

Gestos Mecânicos XVII - 17/12/07

Na superfície da imagem do vídeo apresenta-se um corpo e sua profundidade, demarcada pela presença da escova de dente dentro da boca e em movimento.

Gestos Mecânicos XVIII - 18/12/07

A cidade nos mantém sob seu olhar, que não se pode suportar sem vertigem. Se gostas de vigiar, ofereço meu rosto para seu controle.

Gestos Mecânicos XIX - 19/12/07

Esse diário é, para mim, desenvolvimento de pensamentos que me afligem dia e noite, mais ou menos imediatos e gerais. Não sei se há seqüência de um dia para outro ou se há fragmentação de assuntos ou idéias, o que sei é que é vivo, documento vivo do que quero fazer, do que penso e sinto.

Gestos Mecânicos XX - 20/12/07

A vergonha e a sua ausência são apenas manifestçaões opostas de uma mesma necessidade...sera?

Gestos Mecânicos XXI - 21/12/07

Quando olho para um rosto conhecido, daqueles que se guarda uma memória contida, percebo que fico estranho. É como uma invasão da minha privacidade...um estupro. Não pelo outro, que nem se dá conta daquilo, mas pela sensação de castração que o rosto consegue impor a mim. Rosto como identidade, como poder, como construção ideológica. Rosto de terno e gravata e olhos azuis, rosto de salto alto, rosto no palanque.

Gestos Mecânicos XXII - 22/12/07

....o tempo como um lenço usado. Quanto mais amarrotado, mais possibilidades de novas invenções.

Gestos Mecânicos XXIII - 23/12/07

O gesto de escovar os dentes parece tão corriqueiro que, antes de pensar sobre isso, na infância, achava ser natural tal hábito.Minha avó me contou, quando ainda viva, que ela não tinha escova de dente quando criança. Não existia!Escovava os dentes com uma folha, não me lembro qual, e na beira do rio. Isso me impressionou muito! Tive que rever todas as minhas crenças, e não acreditei mais no que os adultos falavam.

Gestos Mecânicos XXIV - 24/12/07

"Rosto, que horror, é naturalmente paisagem lunar, com seus poros, suas espessuras desiguais, suas partes obscuras, seus brilhos, suas brancuras e seus buracos: não há necessidade de fazer dela um close para torná-la inumana, ela é close naturalmente, e naturalmente inumana, monstruosa cogula." Gilles Deleuze; Félix Guattari - Ano Zero/Rostidade.

Gestos Mecânicos XXV - 25/12/07

"Num contexto marcado pelo controle da vida, as modalidades de resistência vital proliferam de maneiras as mais inusitadas." Peter Pál Pelbart - Vida Capital/p.150.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

GESTOS MECÂNICOS - série de vídeos diários realizados para a web. O projeto se estende durante 25 dias - de 01 a 25 de dezembro de 2007.

Vinte e cinco dias de uma ação repetitiva e particular. Nessas videoperformances para a web - you tube - traço um percurso tendo o meu corpo como instrumento de percepção temporal. Gestos repetitivos, já moldados pela memória do corpo. Gestos mecânicos e condicionados pela necessidade da higiene corporal, sempre particular e íntima.
O rosto como paisagem, o rosto como apresentação da construção identitária do homem, o rosto como política, o rosto como força de controle.

"Se o rosto é uma política, desfazer o rosto também o é, engajando devires reais, todo um devir-clandestino. Desfazer o rosto é o mesmo que atravessar o muro do significante, sair do buraco negro da subjetividade. O programa, o slogan da esquizo-análise vem a ser este: procurem seus buracos negros e seus muros brancos, conheçam-nos, conheçam seus rostos, de outro modo vocês não o desfarão, de outro modo não traçarão suas linhas de fuga."

Gilles Deleuze/Félix Guattari. (Mil Platôs: capitalismo e esquzofrenia) p.58
" O presente é o único tempo disponível, o único tempo real, e longe de ser somente quando cessa de ser...ele não cessa de durar, de continuar, de se manter. Quando comecei essa comunicação, o presente estava aqui. Ainda está, nesse momento em que eu a continuo. E estará sempre, quando eu tiver terminado, quando tivermos nos despedido, quando pensarmos em outra coisa..."

ANDRÉ COMTE-SPONVILLE/O Ser-Tempo

Série de videoperformance para a web - GESTOS MECÂNICOS